Thursday, February 22, 2007

Poluição/Renovação

Corria confiante e cristalina a ribeira jovem
Quando se abeiraram das suas margens
E nela depositaram o lixo fétido da parte mais escura do ser.
Entristeceu-se a ribeira.
Já não via o brilho do sol e a beleza fresca das flores.
Tinha a vista turvada.
O seu íntimo perturbado questionava – porquê?
Percebe, então, que faz parte do todo também o caos.
Vê agora com os olhos do espírito
e trabalha na reconstrução do seu ser.
Na aparência tudo é entropia,
Mas na essência reside a beleza.
Por isso, corre aquela ribeira jovem,
Tacteando, mas percebendo que o Amor faz nascer a vida
E que vale a pena viver por algo maior.

Lisboa, 22 de Fevereiro de 2007

Carla Mondim

Sunday, February 11, 2007

Sede

Meu cheiro a terra molhada,
Minha frescura de manhã de Primavera,
É a tua voz sussurando-me ao ouvido,
Que amansa e acalma a tempestade.
És o fruto de casca dura que ao ser aberto
encerra um interior doce e macio.
És o vento forte que me bate na cara,
mas que me refresca a alma.
És o timido raio de sol
De uma tarde cinzenta.
És o banho tépido
Nas águas calmas do Pacífico,
O pôr do sol a beijar as ondas ao fim do dia
E o voo tranquilo do bando de pássaros no horizonte.
És a minha paisagem,
A minha miragem,
O meu mar,
A minha fonte.

Lisboa, 11 de Fevereiro de 2007

Carla Mondim

Thursday, February 1, 2007

Candeia

Era noite e estava frio.
Desci as escadas a caminho da caverna.
Havia luz, havia calor.
Recolhi-me à espera da chamada.
Guiaram-me até ao âmago da terra.
Ali, as candeias anunciavam-me o caminho e
Questionavam-me se o queria percorrer.
Tinha vontade, tinha empenho.
Agora tenho a pedra e a alavanca.
Vou limar e afeiçoar as arestas,
Vou construir, vou criar,
Com trabalho, com dedicação, com amor.
Não vou correr, vou dar tempo ao tempo
Para que nasça a obra,
Tendo como farol a luz
Sempre presente e companheira.
Este é o meu caminho,
Vou percorrê-lo com determinação,
Vou dedicar-lhe tempo, como quem trata de uma planta.
Vou estar presente, atenta à revelação da verdade,
Atenta à luz da candeia.

Lisboa, 01 de Fevereiro de 2007.

Carla Mondim