Monday, July 30, 2007

Criação

Via láctea
Fio de mel
Cristalina fonte,
Estão na ponta do pincel.
Agora azul, depois alfazema...
Corre na tela o cinema
A dilatar as pupílas
Da sensível alma
Que ao olhar para o quadro acalma
A sede de beleza natural.
Em jeito experimental
Misturo as cores:
Crio formas, ramos de flores
Que encantam
O espírito mais céptico.
Já não sei quem é o autor
Se eu ou o Criador!

Lisboa, 30 de Julho de 2007

Carla Mondim

Thursday, July 26, 2007

Desconstrução

Languidez
Arrastamento
Quebranto
Prostração
Sem fim.
Cresce no peito a inquietação
Que reclama expressão,
Liberdade.
Pondo fim ao confinamento,
Procurando revestir-se
Da luz do protagonismo que lhe dá asas.
A tensão
Distende-me o corpo até ao limite.
Expulso-a para lhe dar forma.
Agora és movimento!

Lisboa, 26 de Julho de 2007

Carla Mondim

Tuesday, July 24, 2007

Ressonância

O cérebro gera ideias,
Infere, deduz, complica.
Ninguém sequer abdica
Da especulação, do jumble jam!
Invade-me a frustração.
Despeço-me do cérebro.
Deslizo por entre as ideias,
Livre, sem fronteiras.
Uma ressonância magnética
Indica um cérebro ausente,
Mas o que na verdade não se encontra presente
São os pré-conceitos, os dogmas,
A falta de movimento,
a impureza da água estagnada.
Deixo de ser uma alma penada.
É avassalador o sentimento
Da liberdade incondicionada.
Sou leve como uma pluma
Sem o peso ou sequer a bruma
Da entropia que me gela o sangue,
Bate forte um coração!


Lisboa, 24 de Julho de 2007


Carla Mondim

Monday, July 23, 2007

Nuvens

Estendo o meu olhar,
Vejo um céu vestido de nuvens.
Recolho-me!
Não, não é Verão, é Outono.
Durmo um sono de cem dias,
Esqueço as saudades do sol.
Já a sonhar, procuro pintar
A minha alma de azul celeste,
tendo a emoldurá-la uma paisagem campestre
Onde me esqueço de mim.


Lisboa, 23 de Julho de 2007

Carla Mondim

Thursday, July 19, 2007

Santa Simplicidade

Viajando no mundo das ideias
Sou mareante em dias de tempestade.
Na senda da verdade
Deparo-me com múltiplos conceitos
E sem me rodear de grandes preceitos
Tomo uma overdose de silogismos.
Inspiro fundo intuindo,
Sem que no meu caminho vá regredindo,
Que muitas vezes a complexidade
Deve dar lugar à Santa Simplicidade!

Lisboa, 19 de Julho de 2007


Carla Mondim

Tuesday, July 17, 2007

Luz Translúcida

É tarde na noite.
Revolvo-me entre os lençóis
E em pensamentos.
Capturo uma ideia
E exprimo-a num poema.
Conheço o seu significado esotérico,
Mas como é tão etéreo
Percebo que apenas é apreendido
O seu significado exotérico.
Escrevo de mim para mim
E nesse exercício escrevo para os outros.
As palavras que escrevo
Escrevo-as a ouro
E a luz que emitem ofusca alguns olhos,
Mas sei que um dia a mensagem
Será translúcida.


Lisboa, 17 de Julho de 2007

Carla Mondim

Monday, July 16, 2007

Uma linha de pensamento

O olhar transcende o horizonte,
Sedento, procurando a fonte
E o espírito ganhando alento
deita ao oceano as chaves
que usou para abrir as grades
que o separavam do conhecimento.
É fim de tarde ameno
E o espírito sentindo-se pleno
Viaja sem constrangimento
Entre as ideias puras,
Pondo fim às agruras
Que passou na sua senda.
Retira dos olhos a venda
Que, embora diáfana,
Não lhe permitia discernir
Que não existem fronteiras.
E que as portas, sempre abertas,
Convidam o espírito a entrar
Libertando-o do ciclo
De estar sempre a questionar
O que é a verdade e a realidade.
Afinal, entende, que basta pensar.
E abandonando-se neste exercício
Afasta-se do precipício
Em que colocou a sua vida
E a dor, sempre sentida,
Dá lugar ao entendimento
De que o conhecimento
Não se faz do sofrimento
Do pensar dialéctico,
Que embora sendo hermético,
É sobretudo poético.

Lisboa, 16 de Julho de 2007-07-16

Carla Mondim

Thursday, July 12, 2007

Razão/Emoção

Penso, logo existo!
E no pensar insisto
Até reconhecer
Que ao pensar
Não me consigo dissociar
Do sentir,
Porque sou uma pessoa.
E em rigor ao pensar
A emoção atravessa-se
A querer significar
Que só faz sentido raciocinar
Se a emoção puder colaborar.
Razão e emoção
Não são inimigos por definição.
A emoção legitima a razão,
Não se faça, porém, confusão
De se julgar que qualquer paixão
Pode justificar a razão.
A razão pura
Como a pura emoção
São meras quimeras,
Porque no homem coexistem
E no homem persistem
Em tranquila harmonia
Ou em constante picardia.


Lisboa, 12 de Julho de 2007

Carla Mondim

Monday, July 9, 2007

Síndrome de Deus

Sento-me à beira de um lago
Com um papel no regaço e com um
Lápis na mão desenho um traço.
Olho uma ave que se aproxima
E o traço quer ser pássaro.
Então o lápis desliza no papel
À procura da forma,
À procura da perfeição.
Descuidada na busca do pormenor,
Alça voo o passarinho que me inspira.
Olho para o papel e vejo uma asa:
É perfeita a asa, mas não é o pássaro que vi,
É só uma linha que não respira.
Então, entendo - o todo é a perfeição.
O pormenor almeja-a com avidez,
Mas perdido em detalhes sem fim
Esquece-se que a beleza do ser
Está inscrita no conjunto,
Como o perfume que se solta do jardim,
Da rosa, do malmequer e do alecrim.

Lisboa, 09 de Junho de 2007

Carla Mondim

Wednesday, July 4, 2007

Asas

Passarinho na gaiola
Deixa-me ser tua amiga.
Quero beijar-te a ferida
Que tens inscrita nas asas.
Aceito a tua mágoa
Em troca de uma melodia
Como se voasses sem barreiras
Sobrevoando a água refrescante das ribeiras.
Passarinho na gaiola,
Deram-te um cativeiro pesado
E a olhar para o lar amado
Cantas triste o teu fado.
E ao cantar, sentes as asas a esticar
levantando voo no teu pesar.
Passarinho na gaiola,
a tua casa é o mundo.
Liberto-te passarinho - És livre!
Já só vejo o desenho das tuas asas lá ao fundo...

Lisboa, 04 de Julho de 2007

Carla Mondim

Tuesday, July 3, 2007

Doce Verdade

Gosto da verdade como quem gosta
De um copo de água fresca no Verão.
Gosto da verdade porque me oferece
O sono descansado nos braços de uma nuvem.
Gosto da verdade porque me aquece
O coração magoado e triste.
Gosto da verdade porque me oferece
A tranquilidade da presa na savana.
Gosto da verdade porque me alivia
Da dor causada pela mentira que magoa.
Gosto da verdade porque se dá a conhecer
Sem embustes, nem véus.
Gosto da verdade porque é transparente
E não me veda o caminho
Como o muro opaco da mentira.
Gosto da verdade porque sim.

Lisboa, 03 de Julho de 2007

Carla Mondim