Monday, July 9, 2007

Síndrome de Deus

Sento-me à beira de um lago
Com um papel no regaço e com um
Lápis na mão desenho um traço.
Olho uma ave que se aproxima
E o traço quer ser pássaro.
Então o lápis desliza no papel
À procura da forma,
À procura da perfeição.
Descuidada na busca do pormenor,
Alça voo o passarinho que me inspira.
Olho para o papel e vejo uma asa:
É perfeita a asa, mas não é o pássaro que vi,
É só uma linha que não respira.
Então, entendo - o todo é a perfeição.
O pormenor almeja-a com avidez,
Mas perdido em detalhes sem fim
Esquece-se que a beleza do ser
Está inscrita no conjunto,
Como o perfume que se solta do jardim,
Da rosa, do malmequer e do alecrim.

Lisboa, 09 de Junho de 2007

Carla Mondim

5 comments:

Luís Branco Barros said...

Olá Biscoitinho,

Ainda bem que continuas a escrever. Sempre te ocupa o tempo...

spring said...

olá!
gostamos de estar deitados à beira do lago no Bois de Bologne a ler o "Hotel du Lac" como se fosse um pequeno prazer partilhado com os pequenos habitantes do bosque.
(aqui no burgo ir ler para o jardim é perfeitamente impossível)
como diria o Cesário este é um poema profundamente verdejante.
beijinhos
paula e rui lima

hfm said...

Gostei muito do que aqui vim encontrar. Voltarei, seguramente.

Joaquim Marques AC said...

O mundo todo,
feito de todo o mundo,
é mais belo
porque existem poetas assim
como a Carla Mondim.
Bjs do Joaquim.

CMondim said...

Meus queridos amigos,
obrigada pelas vossas palavras.