Monday, December 3, 2007

Cinco Minutos

Vive-se a eternidade
Em cinco minutos
Vive-se o instante
Sem passado ou futuro
Vive-se e sente-se
Sem mais.
Vive-se a alegoria
De estar no paraíso
De nadar nu
Numa noite estrelada.
Avista-se o céu
Inspirando fundo
Comungando do
Milagre da vida
Vive-se absorvendo
A eternidade
Em cinco minutos.


Lisboa, 3 de Dezembro de 2007


Carla Mondim

Friday, November 23, 2007

Espírito de Natal

O país vai mal
Entretanto chega o Natal
Falta o dinheiro para as 300 prendas
Está tudo pela hora da morte
É preciso assaltar uma caixa-forte
A cidade está enfeitada
Orgulhosa e engalanada
Fazem-se mil compras a crédito e por empreitada

Tanto papel, tanto laço
Tantas caixas cheias de tudo
Tantas mãos cheias de nada
Tantas almas feridas por uma espada
Tanta luz, tanto glamour
Tantos olhos exprimindo tristeza
Tanto frio e céu cinzento
Além, um coração morno e uma estrela no firmamento...


Lisboa, 23 de Novembro de 2007-11-23

Carla Mondim

Saturday, November 17, 2007

I was born under a wondering star

Looking at the sky
For some answer in the stars
Looking to the smooth shine
For some peace in the heart
Looking always up
For some sense in life
Looking in the dark
For a lost dream
Looking in the sky
For you.

Lisboa, 16 de Novembro de 2007

Carla Mondim

Thursday, November 15, 2007

Silêncio

Quero calar em mim
O ruído de baixa frequência
Que não é audível,
Mas que perturba.
Quero calar em mim
A ânsia de abraçar o mundo
Com o instinto maternal
De quem vê o filho a sofrer.
Quero calar em mim
Esta fúria de quem se depara
Com um aglomerado baço de valores.
Quero calar em mim
O desejo de pintar o mundo de amor.
Quero calar em mim
O pensamento que me corrige o instinto.
Quero calar em mim
A impaciência, a inquietação
de quem sente um coração a chorar solidão.
Quero calar em mim
O ímpeto de redesenhar a realidade.


Lisboa, 15 de Novembro de 2007

Carla Mondim

Sunday, November 11, 2007

Só de raspão

Não me firas no coração,
Fere-me só de raspão.
Não me mintas com palavras,
nem me faças promessas.
Não te despeças de mim
como quem vai de viagem.
Diz-me adeus para sempre
Sem olhares para trás.
Sei que tudo é fugaz
como a vida no momento
em que a morte te reclama,
Em que a chama se apaga,
Em que se eclipsa o luar
No céu onde as estrelas não estão.
Não me firas no coração,
Não me jures amor.
Vai-te embora,
Fere-me só de raspão.

Lisboa

Carla Mondim

Saturday, November 3, 2007

Estar sem tempo

Do meu quarto vejo o mar
Estico as asas brancas
Chegou a hora de voar
Lá bem alto beijo o céu
Rodopio
Sou livre agora
Quero num instante beber o frescor
Da liberdade
Do estar sem tempo
Volto-me para dentro
E vejo o meu jardim interior
Sorris-me nos olhos e dás-me a mão para brincar
Descalços a sentir a terra sou leve como o ar
O som da ribeira acalma
Chamam os passarinhos a alegria
E brilha uma luzinha onde está o coração.

Lisboa, 3 de Novembro de 2007

Carla Mondim

Monday, October 29, 2007

Elã

Preciso de um ímpeto,
De um motor de arranque!
Quero sair deste palanque,
Desta farsa greco-romana!
Não tenho pachorra
Para a natureza humana,
Na sua forma mais pequena
Ou mais ufana...
Quero acreditar na sinceridade,
Que é possível existir honestidade,
Que nem tudo é sórdido,
Ou mórbido.
Quero acreditar na beleza
Ainda que apenas a veja na natureza.
Quero acordar com vontade de respirar
Com vontade de viver e de lutar
Por uma realidade com sentido,
Com justiça, com amor imprimido!


Lisboa, 29 de Outubro de 2007

Carla Mondim

Friday, October 26, 2007

Afagos

Pela manhã encontrei uma nuvem
Que me ofereceu o regaço.
O sol do meio-dia
Aqueceu-me o coração.
As pedras do chão desviaram-se
Para me deixarem passar.
Um passarinho cantou-me
Ao ouvido uma linda canção.
Os ramos das árvores esticaram-se
Para me abraçar.
O vento apaziguou-se,
Uma doce brisa veio-me beijar.
A noite convidou-me a
No seu leito descansar
E a lua prometeu o meu sono velar.


Lisboa, 26 de Outubro de 2007


Carla Mondim

Wednesday, October 24, 2007

Apegos

Um apego – uma pedra de apoio.
Uma pedra – um tropeção.
Um tropeção – um sofrimento.
Um sofrimento – uma morte.
Uma morte – um renascimento.
Um renascimento – uma adaptação.
Uma adaptação – um crescimento.
Um crescimento – uma aprendizagem.
Uma aprendizagem – um aperfeiçoamento.


Lisboa, 24 de Outubro de 2007


Carla Mondim

Sunday, October 21, 2007

Flutuação semântica

Deito o meu corpo nas ondas do mar.
Flutuo na espuma
leve como uma pluma.
A água salgada limpa-me a alma
E as algas nutrem-me a pele.
A maré a embalar-me
Conduz-me para dentro do oceano,
Longe do mundo profano.
Restabeleço-me da sofismação dialéctica,
Do tédio e do aborrecimento,
Da banalidade deprimente,
Da espécie de morte de quem vive
A vida vegetando.


Lisboa, 21 de Outubro de 2007


Carla Mondim

Monday, October 15, 2007

Em alto mar

Sou barco no alto mar.
Desfaço-me da carga
Supérfula para não naufragar.
Deito fora os caixotes cheios de nada,
As molduras já sem sentido,
A mágoa das dores passadas,
As memórias enferrujadas...
Sou barco no alto mar,
Tenho o ânimo da descoberta
De ilhas exóticas de beleza sem fim,
De mares de azul turquesa,
Da fruta madura a adoçar-me os lábios
E da música dos pássaros a embalar-me o sono.
Sou barco em alto mar,
Com determinação, com rumo,
Com nível e com prumo!

Lisboa, 15 de Outubro de 2007

Carla Mondim

Monday, October 1, 2007

O voo do réptil

Nos ramos a bambolear
Está o animal rastejante a querer voar.
Quando nasceu disseram-lhe ser ave
Passando os dias a mirar o céu
À espera que as suas asas crescessem.
Uma ocasião subiu trôpego a uma árvore
E com um passo hesitante equilibrou-se num ramo.
Aí ficou quedo, captando o mundo com alma de pássaro.
Nesses dias sentiu a liberdade nas asas do coração.
O seu olhar fitou o céu como quem voa,
Sentindo o vento a bater-lhe de mansinho
E as nuvens a oferecerem-lhe o desejado ninho.
Do topo da árvore, da qual já não desce até à terra,
Passa os dias em voo contínuo, em eterno êxtase,
Abraçando o céu!


Lisboa, 01 de Outubro de 2007

Carla Mondim

Wednesday, September 26, 2007

Portugal do salamaleque

“V.Ex.a, como vai?”
“O Dr., como se sente?
“Sr. Eng., mas que ar excelente!”
É indigesta a hipocrisia,
O peso da lisonja asfixia.
Tenho horror do servilismo
Pior que o despotismo,
Do que a prisão e a tirania!
A adulação é maçadora,
Mas que coisa perturbadora!
Quero um sorriso franco,
Um aperto de mão leal, sincero,
Um “bom dia” espontâneo, vero!
Por tudo isso e mais espero!

Lisboa, 26 de Setembro de 2007


Carla Mondim

Monday, September 24, 2007

Voo da águia

Horizonte.
Azul celeste.
Corre-me o suor na fronte.
Sou águia no voo sereno
Entre os montes.
O rio é o espelho do sol
De cristais vivos
A acenar-me.
O olhar fita confiante
Mais além.

23 de Setembro de 2007

Carla Mondim,

Saturday, September 22, 2007

SER

Transcendo,
Levito
Sobre o corpo apaziguado
Sigo o caminho.
Não hesito,
Insisto,
Permito
Ser luz.

Tuesday, September 18, 2007

Primado da vontade

Enquanto existir vontade
Não esmorece o espírito na senda da verdade,
Não escorre a lágrima no rosto sofrido,
Não grita o coração ferido,
Porque a vida é injusta.
Enquanto existir vontade
Estendem-se as raízes no deserto
Que extraem do âmago da terra
A seiva que alimenta,
E o céu é perto.
Enquanto existir vontade
Bate vida no meu peito,
Ergo o meu corpo do leito
Doentio, febril, que aprisiona.
Enquanto existir vontade
Existirá obra, criatividade!


Lisboa, 18 de Agosto de 2007

Carla Mondim

Monday, September 17, 2007

À bolina

Mar revolto,
Em correntes envolto,
Viva energia,
Tempestade fria,
Céu cerrado,
Sem a meiga luz das estrelas,
Sem o teu afago.
Barco à bolina,
Não me vence a fadiga,
Não me liberta o fado
Do destino interrogado.

Wednesday, September 5, 2007

Húmus

Sou planta sem raízes.
Rogo alimento
Às palavras, às formas, às cores,
Aos sons que me enchem de sabores,
Que me livram do sofrimento
Do niilismo, do nada no vazio.
Os pulmões cheios de fastio
Inspiram longamente
Na busca premente de vida.
Aqui e ali pontos de luz,
Ténues, cadentes...
Sorvo sofregamente
Uma ideia que me nutre.
Agora sou alma viçosa,
Rosa graciosa,
Até que estenda novamente os braços
Para receber o húmus do espírito.


Lisboa, 05 de Setembro de 2007

Carla Mondim

Monday, September 3, 2007

O mundo do tempo

Limite
Barreira
Constrangimento
Fronteira
Agonia
Prisão.
O tempo - uma maldição...


Lisboa, 03 de Setembro de 2007

Carla Mondim

Friday, August 24, 2007

Teofania

Na tentativa de sacralizar o mundo
Procura o espírito o centro da montanha,
O âmago da terra,
A essência na essência.
Num salto vertiginoso lança-se o corpo no abismo
À procura da salvação.
No meio de um circulo de luz
O espírito comunga com o inefável,
Espaço e tempo são agora o absoluto.

Porto, 24 de Agosto de 2007

Carla Mondim

Wednesday, August 8, 2007

Manual de Otcetipe

Não contraries a natureza;
Sê humilde;
Não procures um sorriso a quem não sorriste;
Persegue um objectivo, em vez de o entregares ao acaso;
Vive em equilíbrio;
Vive como ser humanos que és: come, bebe, fala, ama, ri;
Sorri para o passado e vive o presente;
Tudo o que viveste valeu a pena;
Não culpes o outro do que depende de ti;
Não estabeleças paralelismos, porque és único;
Age segundo os princípios sem constrangimentos;
Age em consciência, mas vive com espontaneidade;
Toma consciência que o inimigo podes ser tu próprio;
Além dos cinco sentidos, não descuides a intuição;
És sempre digno do melhor;
Não procures o mestre, pois é em ti que se encontra;
Medita.


Lisboa, 08 de Agosto de 2007

Carla Mondim

Monday, August 6, 2007

Os olhos da infância

Límpidos, inocentes,
São teus olhos escuros, macios,
Feitos de transparência.
Corre água na ribeira!
Sentada na eira,
Deténs o olhar compreensivo
Sobre o gatinho furtivo
Que rouba a sardinha assada.
Quieta, com o olhar pousado
Sobre o cachorro que persegue
A sombra numa tarde de estio,
Sentes que nada te falta.
A abundância é viver tranquilo
Sobre a vida, deslizando,
Sem resistência ou força.


Lisboa, 06 de Agosto de 2007

Carla Mondim

Wednesday, August 1, 2007

Fase Rem

Toca, dissonante, o despertador,
Oiço, divergente, o ruído.
O corpo pesado, preso ao leito
Regressa à fita a que assistiu:
Faço a utópica viajem:
Insita intuição,
Revolvo-me infusa na alma,
Admiro o pôr do sol ao lado do leão,
Nado com tubarões e golfinhos cor-de-rosa,
sobrevoo o Amazonas.
Perseguem-me medos, fantasmas torpes.
bebo as minhas lágrimas.
Quero gritar e o grito refugia-se no silêncio,
Quero correr e as pernas entorpecem.
Acordo.
Vêm a mim volúveis lembranças,
Estilhaços de memória.
Quero sonhar outra vez .


Lisboa, 1 de Agosto de 2007


Carla Mondim

Monday, July 30, 2007

Criação

Via láctea
Fio de mel
Cristalina fonte,
Estão na ponta do pincel.
Agora azul, depois alfazema...
Corre na tela o cinema
A dilatar as pupílas
Da sensível alma
Que ao olhar para o quadro acalma
A sede de beleza natural.
Em jeito experimental
Misturo as cores:
Crio formas, ramos de flores
Que encantam
O espírito mais céptico.
Já não sei quem é o autor
Se eu ou o Criador!

Lisboa, 30 de Julho de 2007

Carla Mondim

Thursday, July 26, 2007

Desconstrução

Languidez
Arrastamento
Quebranto
Prostração
Sem fim.
Cresce no peito a inquietação
Que reclama expressão,
Liberdade.
Pondo fim ao confinamento,
Procurando revestir-se
Da luz do protagonismo que lhe dá asas.
A tensão
Distende-me o corpo até ao limite.
Expulso-a para lhe dar forma.
Agora és movimento!

Lisboa, 26 de Julho de 2007

Carla Mondim

Tuesday, July 24, 2007

Ressonância

O cérebro gera ideias,
Infere, deduz, complica.
Ninguém sequer abdica
Da especulação, do jumble jam!
Invade-me a frustração.
Despeço-me do cérebro.
Deslizo por entre as ideias,
Livre, sem fronteiras.
Uma ressonância magnética
Indica um cérebro ausente,
Mas o que na verdade não se encontra presente
São os pré-conceitos, os dogmas,
A falta de movimento,
a impureza da água estagnada.
Deixo de ser uma alma penada.
É avassalador o sentimento
Da liberdade incondicionada.
Sou leve como uma pluma
Sem o peso ou sequer a bruma
Da entropia que me gela o sangue,
Bate forte um coração!


Lisboa, 24 de Julho de 2007


Carla Mondim

Monday, July 23, 2007

Nuvens

Estendo o meu olhar,
Vejo um céu vestido de nuvens.
Recolho-me!
Não, não é Verão, é Outono.
Durmo um sono de cem dias,
Esqueço as saudades do sol.
Já a sonhar, procuro pintar
A minha alma de azul celeste,
tendo a emoldurá-la uma paisagem campestre
Onde me esqueço de mim.


Lisboa, 23 de Julho de 2007

Carla Mondim

Thursday, July 19, 2007

Santa Simplicidade

Viajando no mundo das ideias
Sou mareante em dias de tempestade.
Na senda da verdade
Deparo-me com múltiplos conceitos
E sem me rodear de grandes preceitos
Tomo uma overdose de silogismos.
Inspiro fundo intuindo,
Sem que no meu caminho vá regredindo,
Que muitas vezes a complexidade
Deve dar lugar à Santa Simplicidade!

Lisboa, 19 de Julho de 2007


Carla Mondim

Tuesday, July 17, 2007

Luz Translúcida

É tarde na noite.
Revolvo-me entre os lençóis
E em pensamentos.
Capturo uma ideia
E exprimo-a num poema.
Conheço o seu significado esotérico,
Mas como é tão etéreo
Percebo que apenas é apreendido
O seu significado exotérico.
Escrevo de mim para mim
E nesse exercício escrevo para os outros.
As palavras que escrevo
Escrevo-as a ouro
E a luz que emitem ofusca alguns olhos,
Mas sei que um dia a mensagem
Será translúcida.


Lisboa, 17 de Julho de 2007

Carla Mondim

Monday, July 16, 2007

Uma linha de pensamento

O olhar transcende o horizonte,
Sedento, procurando a fonte
E o espírito ganhando alento
deita ao oceano as chaves
que usou para abrir as grades
que o separavam do conhecimento.
É fim de tarde ameno
E o espírito sentindo-se pleno
Viaja sem constrangimento
Entre as ideias puras,
Pondo fim às agruras
Que passou na sua senda.
Retira dos olhos a venda
Que, embora diáfana,
Não lhe permitia discernir
Que não existem fronteiras.
E que as portas, sempre abertas,
Convidam o espírito a entrar
Libertando-o do ciclo
De estar sempre a questionar
O que é a verdade e a realidade.
Afinal, entende, que basta pensar.
E abandonando-se neste exercício
Afasta-se do precipício
Em que colocou a sua vida
E a dor, sempre sentida,
Dá lugar ao entendimento
De que o conhecimento
Não se faz do sofrimento
Do pensar dialéctico,
Que embora sendo hermético,
É sobretudo poético.

Lisboa, 16 de Julho de 2007-07-16

Carla Mondim

Thursday, July 12, 2007

Razão/Emoção

Penso, logo existo!
E no pensar insisto
Até reconhecer
Que ao pensar
Não me consigo dissociar
Do sentir,
Porque sou uma pessoa.
E em rigor ao pensar
A emoção atravessa-se
A querer significar
Que só faz sentido raciocinar
Se a emoção puder colaborar.
Razão e emoção
Não são inimigos por definição.
A emoção legitima a razão,
Não se faça, porém, confusão
De se julgar que qualquer paixão
Pode justificar a razão.
A razão pura
Como a pura emoção
São meras quimeras,
Porque no homem coexistem
E no homem persistem
Em tranquila harmonia
Ou em constante picardia.


Lisboa, 12 de Julho de 2007

Carla Mondim

Monday, July 9, 2007

Síndrome de Deus

Sento-me à beira de um lago
Com um papel no regaço e com um
Lápis na mão desenho um traço.
Olho uma ave que se aproxima
E o traço quer ser pássaro.
Então o lápis desliza no papel
À procura da forma,
À procura da perfeição.
Descuidada na busca do pormenor,
Alça voo o passarinho que me inspira.
Olho para o papel e vejo uma asa:
É perfeita a asa, mas não é o pássaro que vi,
É só uma linha que não respira.
Então, entendo - o todo é a perfeição.
O pormenor almeja-a com avidez,
Mas perdido em detalhes sem fim
Esquece-se que a beleza do ser
Está inscrita no conjunto,
Como o perfume que se solta do jardim,
Da rosa, do malmequer e do alecrim.

Lisboa, 09 de Junho de 2007

Carla Mondim

Wednesday, July 4, 2007

Asas

Passarinho na gaiola
Deixa-me ser tua amiga.
Quero beijar-te a ferida
Que tens inscrita nas asas.
Aceito a tua mágoa
Em troca de uma melodia
Como se voasses sem barreiras
Sobrevoando a água refrescante das ribeiras.
Passarinho na gaiola,
Deram-te um cativeiro pesado
E a olhar para o lar amado
Cantas triste o teu fado.
E ao cantar, sentes as asas a esticar
levantando voo no teu pesar.
Passarinho na gaiola,
a tua casa é o mundo.
Liberto-te passarinho - És livre!
Já só vejo o desenho das tuas asas lá ao fundo...

Lisboa, 04 de Julho de 2007

Carla Mondim

Tuesday, July 3, 2007

Doce Verdade

Gosto da verdade como quem gosta
De um copo de água fresca no Verão.
Gosto da verdade porque me oferece
O sono descansado nos braços de uma nuvem.
Gosto da verdade porque me aquece
O coração magoado e triste.
Gosto da verdade porque me oferece
A tranquilidade da presa na savana.
Gosto da verdade porque me alivia
Da dor causada pela mentira que magoa.
Gosto da verdade porque se dá a conhecer
Sem embustes, nem véus.
Gosto da verdade porque é transparente
E não me veda o caminho
Como o muro opaco da mentira.
Gosto da verdade porque sim.

Lisboa, 03 de Julho de 2007

Carla Mondim

Friday, June 29, 2007

Poesia

Poesia é liberdade.
É navegar nas ondas da vontade,
É adormecer tranquilamente ...
Sobre uma ideia, um sentir ou um pensar.
Não é compromisso, pode ser pesar ou amar.
Pode ser apenas tocar o invisível,
Ou mesmo o intangível.
Pode ser brincar, pode ser um choro doído,
Pode ser um coração caído
No chão.
Eu quero voar e voar ...
E a poesia permite-me dançar
Em harmonia com o sol e o mar
No horizonte.

Lisboa, 29 de Junho de 2007-06-29

Carla Mondim

Thursday, June 28, 2007

Dualidades

Destaco-me do meu corpo
E olho para o mundo:
Vejo a dualidade.
E pergunto-me - o que é a verdade?
Há o preto e o branco,
Há o ódio e há a amizade.
Distraio-me com a polaridade.
Sem uma parte não se conhece a outra.
Sem a dor não se entende a tranquilidade,
Sem a mentira não se percebe o valor da verdade.
Sem a escuridão não se valoriza a luz.
Vivo a dualidade e destaco-me dela
Como de uma paradigma que me ensina a escolher.
Agora sinto-me mais livre, mais forte,
Com mais vontade de viver.


Lisboa, 28 de Junho de 2007

Carla Mondim

Monday, June 25, 2007

Idílio

Toca-me o vento na face
Como quem beija com ternura,
E abraça-me o sol com o seu calor.
Recebe-me o mar nos seus braços
Envolvendo-me na espuma das ondas.
Estende-me a relva um manto
Onde descanso absorta.
Massaja-me a areia os pés
Com doçura.
Saúdam-me as gaivotas contentes
Ao voarem com as suas asas
Orgulhosamente estendidas sobre mim.
Os pinheiros perfumam o ar à minha volta
E nos teus braços me entrego
Porque, enfim percebo, que és tu
O vento, o sol, o mar....

Lisboa, 25 de Junho de 2007

Carla Mondim

Thursday, June 21, 2007

Solstício de Verão

O sol atinge o zénite
e a luz invade-me o corpo.
Inspiro o ar serenamente,
Abraço o universo e neste abraço
Encontro-me contigo.
Brincamos os dois
Com os pés descalços na areia,
Enquanto as ondas do mar
Nos cumprimentam com suavidade.
Rimos com os olhos e somos um
Com o todo.

Lisboa, 21 de Junho de 2007

Carla Mondim

Thursday, June 14, 2007

Viagem

Imersa na actividade rotineira
De um dia de trabalho
Fico queda e questiono -
Qual é o sentido da vida?
O sentido de todo o sistema solar?
Queria viajar no espaço
Com a velocidade do pensamento,
Mais - queria voar
Até um sítio próximo de ti.
Queria que não existissem barreiras de qualquer tipo.
Queria estender o braço e
Encontrar a tua mão e
Estender o outro e encontrar-me
No teu abraço.
Queria cheirar o perfume das flores,
Queria abraçar o mar,
Queria dançar com o vento.
E com este pensamento
Já descansei no teu abraço, já voei e voltei
Mais alegre a mim.

Monday, June 11, 2007

Ressurreição

Depois de um longo sono
Acordo de uma noite sombria,
De uma meia morte e
De um luto quase perene.
Mas agora é dia
E vejo-te no horizonte.
Os nossos olhares encontram-se
No sorriso que nos nasce no coração.
Fiat lux!
A vida sorri-nos e o mundo é nosso!

Lisboa, 11 de Junho de 2007

Carla Mondim

Wednesday, May 30, 2007

Cores e Sabores

Apetece-me fruta madura.
Morangos de vermelho vivo,
Cerejas púrpuras e mangas alaranjadas.
Sinto o cheiro da meloa que me inebria,
E agora são os damascos que me prendem a respiração.
Apetece-me...
Bate-me forte o coração!
Apetece-me um pouco do verde do quivi,
Do amarelo do pêssego e do branco do coco.
É isto fome?
Não, é sinestesia!

Lisboa, 30 de Maio de 2007

Carla Mondim

Sunday, May 20, 2007

Vento

É início de tarde e
O sol distingue-se tímido no meio das nuvens.
Então, sinto a rebeldia do vento a bater forte lá fora.
Está inconformado, palpita inquietação no seu uivar.
Sinto-o agora frio a atravessar-me a pele.
É curiosa a sensação que me desperta -
Refresca-me.
Abandono-me nesse sentir
Como um animal em cativeiro
Que em noite de trovoada, deixa o seu refugio
Para receber a tempestade com todos
Os seus sentidos em alerta.
E o vento, aparentemente incontrolado,
Traz consigo a tranquilidade
Que ternamente me vem beijar.

Lisboa, 20 de Maio de 2007

Carla Mondim

Monday, May 14, 2007

Terra

A vida desponta da Terra
Nas mais variadas formas.
A sua visão é forte, mas
Suave no pormenor das suas linhas.
É de cores quentes e cores vivas,
Contrastando com o azul bebé do céu.
As árvores estendem orgulhosas
Os seus ramos recebendo o
Sol e a chuva, o orvalho e o vento.
E as rochas, inertes ao seu lado,
Transmitem robustas
A força da natureza.
O meu olhar fica preso
Nos seus encantos
Horas perdidas,
Sem fim ...


Lisboa, 14 de Maio de 2007

Carla Mondim

Wednesday, May 9, 2007

ON/OFF

Acende-se uma luz ao fundo do túnel,
Nasce uma esperança no coração.
A meio do caminho a luz desvanece-se
e acabas por tropeçar inadvertidamente.
Ficas quedo, ouves a tua respiração tal é o silêncio.
Está escuro e pedes ajuda.
Ao longe, uma luzinha trémula parece reacender-se.
Caminhas sem olhar para trás
num passo enérgico e vivo.
Apaga-se a luz, refreias o passo ofegante,
quase que cais...
Ergues-te trémulo, pouco confiante,
inicias com inércia o caminho tacteando.
Nenhum sinal da luz.
e então, ela acende-se!
Não, apaga-se...acende-se?
Fechas os olhos, esqueces os sentidos
e segues o teu caminho confiando no instinto.

Lisboa, 09 de Maio de 2007

Carla Mondim

Wednesday, May 2, 2007

Ode à morte

Porque se chora quando a morte
Carrega em seus braços um ente querido?
Porque não se agradece
Quando ela traz o descanso de uma vida
vivida com lágrimas no rosto
e o sofrimento escrito num semblante
que questiona o sentido da vida?
A vida, sabemos todos, oferece-nos,
Como um alucinogénio, sorrisos soltos
Nos intervalos dos momentos vividos
Com o coração a desejar bater mais forte
Até à exaustão.
O que queremos todos?
Não é paz, descanso e tranquilidade?
Faça-se uma ode à morte,
Festeje-se a sua aproximação
Em regozijo e felicidade transbordante.
A vida é o caminho tortuoso que nos conduz
Ao descanso da alma.
Porque se representa a morte
Como um cadáver vestido de negro,
Quando é na verdade
Uma entidade envolta em suavidade que
Nos traz o troféu
Da batalha a que chamamos vida?
Viva-se a vida, mas festeje-se a morte!

Lisboa, 02 de Maio de 2007

Carla Mondim

Sunday, April 22, 2007

A metafísica do amor

O amor é um estado de graça,
Ou o veiculo que te precipita
Inexoravelmente no seio
Da desgraça?
É verdade que o amor
Te toca com a magia
Que te faz olhar para o mundo,
Descobrindo e interpretando,
Nos mais pequenos detalhes,
A perfeição das coisas.
O amor transforma-te numa pessoa melhor.
É tolerante, é vivo e
Funciona, até, como um calmante,
Que te permite ultrapassar com suavidade
Os níveis de maior dificuldade
Do vídeo game chamado vida.
Mas depois, o amor tem a outra face:
A que te magoa e deixa feridas,
A que põe fim a um enlace,
Que previas intemporal.
E para apagar a dor,
Chegas a pensar que tens que apagar
Esse amor dentro de ti.
E como em tudo, fecha-se um ciclo
E inesperadamente revive-se a alegria e depois a dor.
Este é o amor egoísta.
Mas existe o amor livre e desprendido,
Que te liberta da ansiedade do esperar
E da avidez do cobrar
Mais um beijo, mais um abraço.
Então, o amor traça um caminho até ao outro
E um dia regressa a ti,
Por distintos caminhos - por actos,
Por palavras e sorrisos
Vindos de alguém.


Lisboa, 22 de Abril de 2007

Carla Mondim

Thursday, April 19, 2007

Le paradis

Je le cherche toujours
Comme se cherche un trésor.
Je veux être en paix
Et je veux reposer
Dans le recouvrement
De ses bras.
C’est vrai - celle chose que je cherche,
Elle n’est pas d' ailleurs
Que dans mon coeur.
C’est seulement nécessaire
Attendre que la douleur disparaisse
Et retourner à vivre
En regardant l’horizon.


Lisboa, 18 de Abril de 2007


Carla Mondim

Monday, April 16, 2007

From very far away

I want to kill the pain I feel inside,
I want to look the sky
And draw a smile.
I don’t want to suffocate in the sorrow,
I just want to bring the sun in my heart
And share it with all.
Forgive me all the grief I made you pass
‘Cause I already buried
the anguish I walked through.
If I could, I would
Kiss your soul
To close your wounds,
But I hope that my tears
Will smooth your pain.
And that my tenderness
From far away
Will become easy your path
To a life of fondness and unspeakable joy.


Lisboa, 16 de Abril de 2007


Carla Mondim

Friday, April 13, 2007

Onde Anda a Felicidade?

Todos a perseguem, a anseiam
E procuram.
Há momentos em que a julgamos encontrar
E outros em que começamos a duvidar
Se é de facto possível alcançar.
"Em verdade vos digo" :
que a julgo poder achar
em cada um, como a semente
que é obrigatório regar.
E olhando para dentro
aparece escrita no rosto,
nos olhinhos a dançar,
como a querer brincar
com vontade de abraçar
a vida.
A felicidade "tá na cara" -
(Re)Nasce em ti, espelha-se num sorriso e
dissipa-se no ar.


Lisboa, 13 de Abril de 2007


Carla Mondim

Thursday, April 12, 2007

F, f, f.

O trânsito é de loucos,
O trabalho anima poucos.
O desporto exige o tempo que não se tem,
As plantas a atenção que nos falta,
A casa uma rotina de manutenção.
Sim, e depois os amigos também requerem a nossa atenção...
As actividades de maior elevação espiritual
Também solicitam uma hora na nossa agenda
E depois há que ler as notícias do dia,
O livro da moda e ver o filme que “eu não perderia”.
E claro, há que formar uma opinião,
Com ou sem razão, bem ou mal fundamentada,
Mas enfim, ter sempre uma ideia acabada
Da última polémica do dia.
F, f, f…
“F” de quê?
E então replicam os meus hirsutos amiguinhos
- " “F" de quê?! "F" de frenesim, pois então! ;) "


Lisboa, 12 de Abril de 2007


Carla Mondim

Wednesday, April 11, 2007

Ron-rons

No regresso a casa, mais ou menos tardio,
De um dia mais ou menos sombrio,
Sou recebida sempre com muito calor,
Com muito miminho...
Por quem não se cansa de dar,
Nem sequer de esperar
Por mim.
Enterneço-me na sua companhia,
Animo-me na sua alegria,
Aconchego-me no seu carinho
E digo baixinho – obrigada por estarem sempre aqui!

Lisboa, 11 de Abril de 2007


Carla Mondim

Sunday, April 8, 2007

Descansando no ombro da solidão

O céu está cinzento,
Mas já não chove.
Está sombrio o horizonte,
Mas a névoa dissipou-se.
O mar está de negro vestido,
Mas a tempestade passou.
Estou triste como o tempo,
Mas o meu olhar já não te procura ansioso.
A solidão é a minha companheira,
mas o meu coração bate no ritmo certo
De quem vive, sem estar arrependido,
De não ter tentado.


Lisboa, 8 de Abril de 2007

Carla Mondim

Tuesday, April 3, 2007

Ignição

No meio da escuridão
Acende-se um fósforo,
Abre-se uma janela,
Desenha-se um caminho.
Não é plano ou linear,
Tem curvas e contracurvas,
Há rochas e montanhas a vencer.
A vegetação é densa e os espinhos
Magoam-me os pés descalços.
O sol e a chuva acompanham-me na viagem,
O vento empurra-me para trás e
O frio da noite dá lugar ao calor da manhã.
O caminho estende-se à minha frente
Até ao limite que os meus olhos conseguem alcançar.
Não paro, jamais...
O cansaço está escrito no meu rosto,
Mas a vontade de chegar a um porto seguro
Tudo suporta, tudo vence, tudo conquista.
Rasgo o limite e acende-se outro fósforo....

Lisboa, 3 de Abril de 2007

Carla Mondim

Thursday, March 29, 2007

Pernoitei na ilha dos amores

Naquela noite ancorei o meu barco a uma ilha
Que insolitamente se desenhou no meio de um oceano sem fim.
Sem demoras, sem hesitações,
Os meus pés tocaram a areia ainda quente do sol.
A vegetação era densa e a cornucópia de flores e frutos
Dilatavam-me as pupilas.
O som dos pássaros e o rumor da água de uma ribeira próxima
Entravam-me pelos ouvidos em forma de música.
Inebriada com o que me rodeava
Envolvi-me numa dança de suaves mimos
Que me despertaram os sentidos.
Caí inadvertidamente junto ao mar
E, então, levou-me uma onda sem eu esperar.
Ai que saudades ficaram,
Mas mais que as saudades,
Guardo a doce dádiva de te encontrar.

Lisboa, 29 de Março de 2007

Carla Mondim

Wednesday, March 28, 2007

Não existe tempo para esperar

A vida é um bem precioso
Que nos escapa por entre os dedos
Como a mais fina areia.
Quero por isso vivê-la
Como quem sorve sedento uma gota de água.
Quero prestar-lhe honras diárias
Sem me perder no queixume que dela me alheia .
Não me quero opor a ela, nem a quero culpar.
Quero na minha existência Ser e Estar,
Ser protagonista e evitar apenas olhar
para o filme que está a passar.
Nem sempre a compreendo,
Mas reconheço a dádiva que representa.
E por isso, permanecerei em cena
Até ao último acto.

Lisboa, 28 de Março de 2007

Carla Mondim

Tuesday, March 27, 2007

Quero Beijos na Alma

Quero beijos na alma,
Que me curem do mal que padeço.
Preciso do calor de um beijo
que me envolva na mansidão de um afago.
Quero um beijo na alma sem ter que o pedir,
Sem ter que o reclamar.
Quero senti-lo sem esperar,
Quero saboreá-lo com surpresa.
Quero um beijo na alma
E outro e outro…

Lisboa, 27 de Março de 2007


Carla Mondim

Monday, March 26, 2007

O cume da montanha

Numa escalada determinada
Em direcção ao cume da montanha
Saboreio, com suor no rosto, a paisagem que se desenha à minha frente.
Não me detenho mais com ela,
Tenho um objectivo maior
Que é atingir o topo que me promete o descanso.
Agarro-me com afinco às saliências da rocha
Para não cair desamparada.
Sinto os braços cansados,
Mas ainda assim continuo o meu caminho.
Olho para cima e vejo onde quero chegar.
Mais um esforço, um pouco mais de empenho
E sei que estou perto.
Desafio os meus limites, esmoreço e retempero-me
Com a aproximação.
Mais um esforço...estou a tocar-te,
E apercebo-me que é ilusório o cume da montanha,
Sem fim.
A escalada continua e o que me parecia pensar chegar a ti,
Está cada vez mais longínquo.
Ainda não te consegui alcançar...
Na vida, sucedem-se até a morte os cumes da montanha.


Lisboa, 26 de Março de 2007

Carla Mondim

Wednesday, March 21, 2007

Chamam-lhe Primavera

É com alegria que a recebemos...
Traz-nos o sabor ameno do sol a tocar-nos o rosto,
Desenha-nos o sorriso espontâneo nos lábios,
Anunciando o canto despreocupado dos pássaros.
As flores desabrocham vaidosas
pintando um quadro de muitas cores.
É o doce refresco que nos invade
E que reacende a alegria de existir
Apenas para contemplar.
Vem devagar, devagarinho,
Sempre tímida, mas confiante
Das belas emoções que consegue despertar
Até nas almas mais avessas a amar.
Chamam-lhe Primavera...
Eu, recebo-te sem te chamar.

Lisboa, 21 de Março de 2007


Carla Mondim

Tuesday, March 13, 2007

Tocando o infinito

Espero, olho na tua direcção.
Fico imóvel, espero...
Olho para além da linha do horizonte.
Já não espero, transporto-me para mais além,
Rasgo as fronteiras físicas.
O meu corpo está aqui, mas eu já não estou,
Já não me comporta, não me contém.
Sou livre e sobrevoo o espaço ilimitado.
Liberto-me da prisão que me encerra dentro do corpo.
O todo contem-me e eu contenho o todo.
Sou livre e toco o infinito.

Lisboa, 13 de Fevereiro de 2007

Carla Mondim

Thursday, February 22, 2007

Poluição/Renovação

Corria confiante e cristalina a ribeira jovem
Quando se abeiraram das suas margens
E nela depositaram o lixo fétido da parte mais escura do ser.
Entristeceu-se a ribeira.
Já não via o brilho do sol e a beleza fresca das flores.
Tinha a vista turvada.
O seu íntimo perturbado questionava – porquê?
Percebe, então, que faz parte do todo também o caos.
Vê agora com os olhos do espírito
e trabalha na reconstrução do seu ser.
Na aparência tudo é entropia,
Mas na essência reside a beleza.
Por isso, corre aquela ribeira jovem,
Tacteando, mas percebendo que o Amor faz nascer a vida
E que vale a pena viver por algo maior.

Lisboa, 22 de Fevereiro de 2007

Carla Mondim

Sunday, February 11, 2007

Sede

Meu cheiro a terra molhada,
Minha frescura de manhã de Primavera,
É a tua voz sussurando-me ao ouvido,
Que amansa e acalma a tempestade.
És o fruto de casca dura que ao ser aberto
encerra um interior doce e macio.
És o vento forte que me bate na cara,
mas que me refresca a alma.
És o timido raio de sol
De uma tarde cinzenta.
És o banho tépido
Nas águas calmas do Pacífico,
O pôr do sol a beijar as ondas ao fim do dia
E o voo tranquilo do bando de pássaros no horizonte.
És a minha paisagem,
A minha miragem,
O meu mar,
A minha fonte.

Lisboa, 11 de Fevereiro de 2007

Carla Mondim

Thursday, February 1, 2007

Candeia

Era noite e estava frio.
Desci as escadas a caminho da caverna.
Havia luz, havia calor.
Recolhi-me à espera da chamada.
Guiaram-me até ao âmago da terra.
Ali, as candeias anunciavam-me o caminho e
Questionavam-me se o queria percorrer.
Tinha vontade, tinha empenho.
Agora tenho a pedra e a alavanca.
Vou limar e afeiçoar as arestas,
Vou construir, vou criar,
Com trabalho, com dedicação, com amor.
Não vou correr, vou dar tempo ao tempo
Para que nasça a obra,
Tendo como farol a luz
Sempre presente e companheira.
Este é o meu caminho,
Vou percorrê-lo com determinação,
Vou dedicar-lhe tempo, como quem trata de uma planta.
Vou estar presente, atenta à revelação da verdade,
Atenta à luz da candeia.

Lisboa, 01 de Fevereiro de 2007.

Carla Mondim

Thursday, January 25, 2007

Os Gatos

Que graça quando se movem,
Que olhar tão puro.
Quão dócil o seu chamego,
Quando me acarinham
Mostrando-me o seu apego.
Sempre presentes,
Sempre fieis,
Sempre verdadeiros.
São os primeiros
A sentir o que me vai na alma,
E a transmitir-me a calma,
Que me amacia,
Que me adoça.
O que de mim seria,
Sem o seu miminho,
Tão quentinho,
Quando preciso de calor,
Para me afagar o coração
Suplicante, e
ávido de amor.
Que alegria,
Quando regresso a casa.
O espaço enche-se de luz,
De vida, de cor.
Sim, são os meus gatos,
Que me aliviam da dor,
Que me preenchem a alma,
Dos dias vazios,
Das noites frias,
E das vigílias, sem fim.
Ai, mas um olhar vosso,
Tão doce e sincero,
É tudo o que quero,
Para voltar a mim.

Lisboa, 25 de Janeiro de 2007

Carla Mondim

Friday, January 19, 2007

Um olhar posto no horizonte

Um olhar posto na linha do horizonte
Procura-te, deseja-te, anseia-te.
Não te encontras lá, porém.
Estás longe, distante.
Esse olhar que te procurou volta-se para dentro,
E refugia-se nas cores do seu mundo interior.
vagueio pelo desfiladeiro dos sentimentos q me precipitam na entropia,
Que me sugam a energia vital, mas, contudo, realimento-me de esperanças.
Olho novamente o horizonte e vejo névoa,
Os meus olhos estão cansados,
A minha luz trémula.
Volto a mim, reencontro-me, vivo no mundo das ideias, do abstracto.
Fortaleço-me para te continuar a procurar, a procurar-me,
Porque tu tens uma parte de mim, que te ofereci,
Que te dediquei.
Sou fraca, porém sou forte quando me encontro contigo,
Nos teus braços, no teu calor, no teu olhar.
Olho para ti atravessando-te para me encontrar.
Tens algo que me pertence,
Que quero resgatar,
Mas que não te quero tirar,
Porque é teu o que te dei
Com a suavidade do desprendimento
De quem dá com o coração.
De dentro volto o meu olhar para o exterior.
Estou frágil, mas quero caminhar
Para a luz do sol que se adivinha lá ao longe,
Para o calor que me promete fechar as feridas
De quem vive sem ter medo de dar.
Vejo uma promessa
E com a simplicidade de uma flor ao desabrochar
Abro-me para o que tens para me dar.

Lisboa, 21 de Dezembro de 2006

Carla Mondim

Ocaso

Passam os dias
E o que antes me enchia o coração
Está vazio de ti.
Que nostalgia
Dos momentos em que se anunciava um encontro,
Um enlaçar de braços,
Um sorriso trocado olhos nos olhos.
Deixei de sentir a adrenalina do toque,
A sofreguidão do beijo,
A necessidade de misturar o meu suor com o teu.
Ficou a solidão do abraço,
O olhar sombrio perdido na linha do horizonte.
Estou perdida, sem rumo.
Sem forças para caminhar
Em direcção ao sol,
Porque não nasce, como dizem, todos os dias,
É o ocaso.

Lisboa, 10 de Janeiro de 2007

Carla Mondim

Uma nota ao vento

Era noite escura.
Fazia frio e o vento agitava as folhas das árvores.
Entrei no teu mundo, era acolhedor e familiar o espaço que nos envolvia.
Havia uma lareira acesa
E uma gata a ronronar pela sala.
Havia a opacidade do teu olhar,
Que não consegui vislumbrar.
Onde estás por detrás da pessoa banal que representas e queres tanto ser?
Não és banal, talvez sejas superficial,
Mas avaro do que têm para te dar.
Sinto urgente o teu apelo,
O teu grito esgota-se no silêncio
Que se estrangula na tua garganta.
É difícil conseguires preencher o vazio das noites sem ovações.
Estás perdido e queres encontrar-te.
Vives no limite, mas por isso não vives o que é simples.
Queres mais e não percebes que é a vida que reclama mais de ti.
Lá dentro há uma janela para um mundo
Que imaginas que te traz o êxtase,
E que te faz contar e até quase vivenciar
Aqueles lindos quadros que cantas.
Por vezes, num laivo de irreverência
contra um mundo que não te dá o que queres
traças um risco enérgico sobre a tela que pintaste.
Estás cansado, eu sei...
Mas tens dentro de ti a canção
Que vais sempre querer evocar
Naquelas outras que são o espelho baço
Daquilo que queres mostrar ao mundo.
Tens muito para dar, e é sempre tão pouco o que pensas que te dão.
Não, não sabes, dizes tu,
Nem sequer me tocaste.
Eu sou mais, muito mais.
Quero mais.......

Lisboa, 21 de Dezembro de 2006

Carla Mondim

Embriagada

De volta a mim, depois de uma viagem pelas trevas,
Regresso ao aconchego do lar.
A noite transforma-se em dia,
A tempestade em acalmia.
Os meus olhos distinguem agora,
com clareza,
As finas linhas das flores, o ar fresco da manhã,
O leve calor dos raios do sol.
O ciclo da vida retoma o caminho do mar
E o movimento constante das ondas murmura-me aos ouvidos
Uma cantiga de encantar.
Vivo o presente com a expectativa de que algo bom está para acontecer...
De que amanhã continuarei a viver
Com vontade de acordar,
Com a vontade de me embriagar
De ti, do teu olhar a cantar
As melodias que impõem o ritmo
Do meu coração a bater mais forte.
Quero anunciar ao mundo que estou viva,
Que sou uma força que se integra
Neste mundo sempre a girar
Que não pára esta dança,
Sempre a rodopiar,
Mas que não cansa
A doce esperança
De viver com o coração a bater
Por ti.

Lisboa, 28 de Dezembro de 2006

Carla Mondim

Abandono

Perco o olhar num horizonte sem fim
De um fim de tarde tépido.
As cores quentes do rosa e do azul celeste,
A esmorecer,
Apaziguam-me o espírito.
A tranquilidade dual do oceano irreverente
Transporta-me numa viagem
Que me dá asas.
Voo, vivo um sonho,
Leio poemas nas flores,
Sinto música no ar.
Sorvo a vida num instante,
Como a chama do amante
No leito que deita o pecado.
Tudo é perfeito na sua definição de ser,
Tudo pode ser amado.
Até a natureza morta...
O amarelecer das folhas,
Convidam a um olhar parado
Sobre o segredo que vive atado
Na sua vida quase a morrer.
Vivo o sonho, vivo o encanto,
Sem a dor do pranto
Em que me revolvo
Quando não consigo chegar a ti.
Mas hoje está sol,
E ao longe um farol,
Avisa-me que,
em dias de tempestade.
Estará lá,
para me conduzir ao meu porto seguro.
Por isso me abandono,
Ao sabor do fruto maduro
Do teu abraço.

Lisboa, 19 de Janeiro de 2007

Carla Mondim

A rasgar

Faz frio cá dentro.
A noite é de uma escuridão densa.
Não há luar,
Não há estrelas no céu a brilhar.
O mar está calmo.
Na tristeza da luz inexistente,
Ao longe, um raio
Rasga o negro pintado no céu.
Acende-se uma chama
Que corta orgulhosa o ar gélido.
Abre-se uma fenda
Permanente.
A lacerar,
A romper, bem devagar,
Sempre a cortar,
A sulcar,
A terra que grita fértil
Pela semente
Que quer plantar.
Quer crescer algo dentro dela,
Que ainda é pequenina
Como a luz de uma vela
Que reclama ar
Para se alimentar.
Dá-me ar, dá-me ar!
Senão morre cá dentro
Sempre a gritar,
A esperança que te quer abraçar.
Dá-me ar, dá-me ar!

Lisboa, 29 de Dezembro de 2006

Carla Mondim