Friday, January 19, 2007

A rasgar

Faz frio cá dentro.
A noite é de uma escuridão densa.
Não há luar,
Não há estrelas no céu a brilhar.
O mar está calmo.
Na tristeza da luz inexistente,
Ao longe, um raio
Rasga o negro pintado no céu.
Acende-se uma chama
Que corta orgulhosa o ar gélido.
Abre-se uma fenda
Permanente.
A lacerar,
A romper, bem devagar,
Sempre a cortar,
A sulcar,
A terra que grita fértil
Pela semente
Que quer plantar.
Quer crescer algo dentro dela,
Que ainda é pequenina
Como a luz de uma vela
Que reclama ar
Para se alimentar.
Dá-me ar, dá-me ar!
Senão morre cá dentro
Sempre a gritar,
A esperança que te quer abraçar.
Dá-me ar, dá-me ar!

Lisboa, 29 de Dezembro de 2006

Carla Mondim

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