Friday, January 19, 2007

Uma nota ao vento

Era noite escura.
Fazia frio e o vento agitava as folhas das árvores.
Entrei no teu mundo, era acolhedor e familiar o espaço que nos envolvia.
Havia uma lareira acesa
E uma gata a ronronar pela sala.
Havia a opacidade do teu olhar,
Que não consegui vislumbrar.
Onde estás por detrás da pessoa banal que representas e queres tanto ser?
Não és banal, talvez sejas superficial,
Mas avaro do que têm para te dar.
Sinto urgente o teu apelo,
O teu grito esgota-se no silêncio
Que se estrangula na tua garganta.
É difícil conseguires preencher o vazio das noites sem ovações.
Estás perdido e queres encontrar-te.
Vives no limite, mas por isso não vives o que é simples.
Queres mais e não percebes que é a vida que reclama mais de ti.
Lá dentro há uma janela para um mundo
Que imaginas que te traz o êxtase,
E que te faz contar e até quase vivenciar
Aqueles lindos quadros que cantas.
Por vezes, num laivo de irreverência
contra um mundo que não te dá o que queres
traças um risco enérgico sobre a tela que pintaste.
Estás cansado, eu sei...
Mas tens dentro de ti a canção
Que vais sempre querer evocar
Naquelas outras que são o espelho baço
Daquilo que queres mostrar ao mundo.
Tens muito para dar, e é sempre tão pouco o que pensas que te dão.
Não, não sabes, dizes tu,
Nem sequer me tocaste.
Eu sou mais, muito mais.
Quero mais.......

Lisboa, 21 de Dezembro de 2006

Carla Mondim

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